
O espetáculo Quebraquilos, montagem do grupo paraibano Alfenim de Teatro, sob a direção de Márcio Marciano, é um trabalho de um coletivo que optou como objeto de pesquisa, por um evento praticamente desconhecido da historia da Paraíba.
A escolha pela revolta dos Quebraquilos, ocorrida em 1874, tem uma clara conotação política. Tudo é política no espetáculo. Uma delas é a de não permitir que as lutas populares sejam difamadas, e muito menos abstraídas pela história dos livros didáticos, como aqueles que estudamos quando pequenos.
É a principal questão colocada em palco. Mas o texto do grupo Alfenim trata de várias outras revoltas menores que bem demarcadas durante toda a peça. Um exemplo é a cena da revolta contra o recrutamento militar, ou aquela contra os impostos cobrados na cena da feira, ou contra a aplicação de novos padrões de pesos e medidas como na hora de vender o quartinho de cachaça...
Não falta revolta. As ações dos atores, os recursos cênicos, o canto, o coro, a música, por exemplo, estão sempre reforçando essa sensação de revolta...É como se Márcio Marciano, quisesse chamar atenção para esse período histórico do Nordeste, onde a população de várias cidades se encontrava prestes a enfrentar de forma violenta, as opressões, mandos e desmandos freqüentes nas lutas de classes e na economia local.
É um grito que chama pela justiça, mas antes disso, é um choque que pretende acelerar a pulsação que romperia a precária relação entre as classes sociais, e o Estado monárquico.
Tudo isso se apresenta ao público não como em uma aula onde a professora vai ditando aos alunos, no caso o espectador, frases que nunca foram lidas nos livros de História da Paraíba. Vemos essas revoltas em palco, na forma como os atores lidam com o texto, na multiplicidade de personagens que eles assumem e nas marcações de cena, que lançam mão da palavra que leva ao canto, ao coro, ou vice-versa.
O cenário traduz perfeitamente o espírito do texto, integrando atores e platéia numa feira quadrada – em palco italiano. Claro que essa sensação é mais facilmente percebida quando o espetáculo é encenado em uma sala, como o foi na Escola Piollin, ou em teatro de arena – como será no XII FENART.
Transferindo para um palco italiano na abertura da I Mostra de Teatro de Grupo, essa integração ficou mais a cargo dos atores em cena, alinhados, lado a lado, que passam todos, a encarar o público de frente. Quando somos encarados, somos obrigados a ouvir, ver, e presenciar a realidade econômica da Paraíba, em tempos de província.
Mesmo assim em momento algum do espetáculo, esquecemos que estamos assistindo a uma montagem de teatro e que este teatro, sem ser didático, nos apresenta um fato histórico e faz uma defesa a todos que estiveram envolvidos nas revoltas populares.
Há cenas memoráveis, principalmente entre a dupla Soia Lira e Zezita Matos. É uma dupla sinérgica, onde o olhar de uma se comunica com o olhar da outra de forma clara, e quem ganha é quem testemunha isso, no caso, nós, espectadores.
Como esquecer cenas tipo a do roí roí, da banana, da feira, dos discursos violentos, da negra se insinuando para a personagem de Daniel Porpino, apresentando as suas “medidas”. Pois é, a peça pergunta isso em música, em ação, em história, em coletivo, ou individual.
Mas, quanto vale mesmo a sua medida? Quebra-quilos, quebra-litros, quebra-metro, quebra-peso, quebra....