terça-feira, 4 de março de 2008

Diário de bordo - capítulo 1 "Lasar Segall"


Mas porque Segall, de repente neste blog? Pq raras sãos as oportunidades que temos de ver em um só ambiente um recorte tão significativo de um artista como esse. Pois é. Então, estando em São Paulo não pude deixar de conhecer esse cidadão que teve as caras de confrontar a sociedade brasileira em 1926 com essa pintura acima - e muitas outras!, que se chama Morro Vermelho.

Veja o que escreveu o curador Tadeu Chiarelli sobre esta obra: "Morro vermelho é uma das obras mais complexas de Lasar Segall. O quadro apresenta o tema da Virgem com o menino de maneira impactante: a frontalidade das figuras sugere as imagens de devoção cristã, mas ambas exibem traços africanos, o que não é absolutamente comum na arte dos anos de 1920 (...) O uso de cores virbrantes também é parte da herança expressionista, mas essa vertente da produção vanguardista não se permitia aderências a qualquer cânone pictórico, como fez Sagall ao relacionar a mãe e a criançca negras à tradição iconográfica cristã".

Morro vermelho foi pintado durante a primeira temporada brasileira de Segall (1923-1928). Mostra-se caminhos entrecruzados nesse tipo de expressão de Sagall. É vê-lo caminhar entre a tradição e a radicalidade das vanguardas.


Pq Sagall?! Porque é modernista e pq sua pintura é brasileira. Nascido na Lituania, Lasar Segall foi um daqueles homens que pirou o quengo do Mário de Andrande desde os anos de 1920. Pq? mais uma vez pq era moderno, e isso significava para Mário de Andrade estar presente á polêmicas estéticas vigentes à epoca. Polêmicas que estavam presentes á vida daqueles vanguardistas que tinham como guia a escola expressionaista. A pintura acima leva o nome de Paisagem Brasileira (1925). As cores são fantásticas e qualquer semelhança com nossas favelas não é mera coincidência...



E pra encerrar esse primeiro capítulo do meu diário de bordo por São Paulo, finalizo com uma das telas que mais gostei na exposição de Sagall. A imagem acima tem o nome de "Duas Amigas". Elas são ousadas, sugestivas, e até mesmo embaraçosas. Suas cores são disformes e seus gestos agressivos. E por isso mesmo que as admiro...é isso...as elocubrações ficam por conta do curador da exposição, o Tadeu Chiarelli.
De minha parte ficam apenas as impressões. E sim, este é, pra mim, um dos objetivos da exposição, revelar a recepção dos modernistas brasileiros á obra de Segall. Isso acaba provocando um processo de recepção a partir da recepção do outro. Mas isso é outra história...
A expoisção Sagall Realista está aberta ao público até 16 de março na Galeria de Arte do Sesi, localizada no Centro Cultural Fiesp, na avenida Paulista em São Paulo.