sexta-feira, 14 de setembro de 2007

"A música independente é underground por natureza..."

O Festival Mundo termina neste sábado (15) e para quem acompanha a cena da música independente de João pessoa e de todo o país, fica, mais uma vez, os mesmos questionamentos quanto às alternativas e mecanismos de promoção para todos os segmentos que estão envolvidos na cadeia musical. Só este ano, pode-se citar pelo menos três projetos (Festival Mundo, Aumenta Que É Rock e Rock 4 x 4) com propostas semelhantes de aglutinação e valorização deste cenário. O produtor cultural, gerente de e-commerce, e moderador da lista on line de discussão PB Rock - que estará lançando ainda este ano uma coletânea virtual de bandas paraibanas, Jesuíno André, em entrevista, fala sobre pontos nevrálgicos do “mercado” independente e reflete sobre os diversos fatores que atrasam o fortalecimento de um evento que alcance grande destaque nacional, a exemplo do Abril Pró Rock em Recife.

Calina Bispo: O que é o PB Rock?

Jesuino: É uma lista de discussão, que reúne músicos, produtores, jornalistas e demais interessados para divulgar e promover a cena local, que existe desde o começo de 2006. Atualmente já temos cerca de 80 pessoas participando da lista.

Calina Bispo: Quanto à coletânea, como está sendo formada?

Jesuino: São abordados temas de interesse comum. Os que participam da lista foram os primeiros convocados, claro que primando pela qualidade artística e de produção musical. Criamos a lista PB Rock (paraiba rock) com o intuito de congregarmos um tanto da cena local, com isso também promovendo algumas idéias. No começo queríamos fazer uma coletânea no formato tradicional, quer dizer, gravação padrão em estúdio e prensagem de 1000 copias em cd. Até tentamos um projeto na Lei Municipal de Incentivo a Cultura, mas não fomos aprovados. Então dei a idéia de fazermos uma coletânea virtual, pois o objetivo é mostrar a cena musical local para o maior número de pessoas possíveis e aí conseguimos mostrar nossa proposta para uma empresa local de tecnologia que vai dar todo apoio.

Calina Bispo: E como estão os encaminhamentos para o lançamento da coletânea?

Jesuino: Está faltando o acabamento final do site. Serão 19 bandas em diversos estilos, com uma faixa para cada banda download em mp3 para as músicas e download para capa do disco. Teremos ainda agenda e informações sobre as bandas com imagem, links, etc. Ainda ressalto que esse tipo de produção com esse objetivo partindo de um grupo de discussão será inédito em todo país, o que pode dar margem para fazer outra coletânea no mesmo formato, com outras bandas.

Calina Bispo: Voltando ao Festival Mundo o que ele pode provocar no mercado da música independente?

Jesuino: Bom, já coloca João Pessoa e a Paraíba no circuito nacional dos festivais. Fomenta intercambio entre os músicos, bandas e os produtores.O público tem a chance de conhecer e ver novas bandas tocando com equipamentos de qualidade e com boa mídia. Nossa cidade hoje tem uma leva enorme de bandas nos mais variados estilos. Na impressa, por exemplo, não temos um espaço definido para falar, mostrar nossa cena...

Calina Bispo: Você acompanhou as duas últimas edições do Festival Mundo e do Aumenta que é rock. Há alguma diferença marcante entre eles?

Jesuino: Não há diferença alguma. É bom ressaltar que são eventos independentes sem patrocínios fortes, com verbas limitadas. Mas que são os melhores expositores da atual música pop local e nacional. Basta verificar a quantidade de bandas/artistas que estão na programação do Festival Mundo. Hoje com a crise na indústria fonográfica, devido ao avanço e popularidade da tecnologia, os festivais no país tornaram-se referencias para o que é ditado na atual cena musical.

Calina Bispo: Mas em João pessoa, onde a cena local também não tem espaço de difusão através das rádios, você acredita que festivais com propostas semelhantes acabam não contribuindo muito para divulgação das bandas pós-eventos?

Jesuino: Essa é uma discussão interessante.

Calina Bispo: Não seria o caso de se pensar em uma atitude desse segmento - quer dizer, os produtores desses eventos não deveriam sentar e avaliar as reais necessidades de toda a cadeia?

Jesuino: Exatamente. É necessário cumplicidade de todos os setores. Temos boas bandas e artistas, mas que não tocam nas rádios e não aparecem na tv e pouco aparecem nos jornais...

Calina Bispo: Será que a institucionalização, como aconteceu com o Abril Pró-Rock de Paulo André, desses festivais não é um caminho para mudar esse quadro?

Jesuino: Os festivais, claro, vão sempre precisar de dinheiro, principalmente das entidades públicas. Sem isso nada de substancial irá acontecer, a música fica subterrânea e obscura, mas é a característica da independência, sem cumplicidade movimentada por todos os setores, como falei, nunca irá se expandir. As músicas têm que tocar nas rádios, sair em tv, surgir novos eventos, conquistar mais espaços de apresentação.

Calina Bispo: Mas a música independente tem que ser obscura e subterrânea porque? Não cabe aos produtores desses festivais independentes, também lançar à luz, novos músicos, bandas e experiências?

Jesuino: A música independente é underground por natureza. Temos belos exemplos como o inicio de carreia de bandas como Raimundos, Planet Hemp, Skank, tiveram um começo ralando nos shows, festivais e turnês independentes, até serem descobertos pelas grandes gravadoras. Só que hoje temos uma outra verdade. Um músico local definiu anos atrás o que significa esse movimento, digamos assim. Disse ele que o que é independente hoje será mainstream amanhã.

Calina Bispo: O que você destaca do cenário paraibano atual?

Jesuíno: Temos algumas das bandas e artistas mais talentosos da região e até do país como Cabruêra, Chico Correa, Star 61, Escurinho, Dead Nomads, além de uma nova leva interessante de bons grupos. A renovação é constante. Agora com a Internet o modelo de divulgação e promoção é grandioso e caótico. Na verdade temos que saber do modelo existente no passado comparado a uma nova verdade de mercado.

Calina Bispo: Esse pessoal que você citou, com exceção do Dead Nomads, forma um grupo amadurecido da música pessoense, pois já tem caráter de exportação (Cabruêra e Chico Corrêa são exemplos disso), e Star 61, todos contemplados em projetos musicas ou em leis de incentivo...

Jesuino: Sim, não há sustentação financeira para esses artistas aqui em nosso Estado. For depender de shows e vendas de discos... mas esse problema é em todo país... além disso os citados mostram acentuada qualidade musical, é justo pleitearem incentivos das leis adequadas. Acho q o estado deveria participar mais com políticas apropriadas, duradouras e menos burocráticas...

Calina Bispo: O que falta a grupos como Dead Nomads, por exemplo, que está na estrada a pelo menos uma década, tem público de gerações diferentes, mas que não exporta nem está nesse circuito de incentivos?

Jesuino: Primeiro que a sonoridade da banda não tem apelo para comprar com esse modelo de exportação. Segundo, é preciso tocar nas rádios para atingir um maior publico. Terceiro, é sobre essa política das instituições públicas que precisam abranger a maior quantidade de artistas possíveis, claro incluindo maiores valores nos incentivos.

Calina Bispo: Não faltam atitude e articulação entre músicos e produtores? Ou ser contemplado e ser inserido nesse cenário privilegiado pode significar sinônimo de dependência?

Jesuino: Sim, pode ser, é um lance de muita independência para pouca autonomia... é uma seqüência natural: tenho uma boa música, preciso mostrar meu som nos palcos, nas rádios, nas tvs, nos jornais. Preciso ter dinheiro para gravar um disco, preciso de incentivos fiscais, etc. Sem um pensamento comum, fica tudo meio a deriva, valendo pela sorte do destino.

Calina Bispo: Que Festivais você destaca em João Pessoa?

Jesuino: De interessante o Aumenta Que é Rock, que trouxe nomes significantes de vários Estados: por exemplo Cascadura, Jason, Honkers, Lucy and The Popsonics, etc. Por sinal foi um evento de muita coragem pra fazer isso. Agora o Festival Mundo segue a mesma trilha e ainda acrescenta discussões e outras artes. Mas você pode encontrar outros eventos com o Rock 4X4 no Bairro dos Funcionários que teve outras edições...

Calina Bispo: Quanto as entidades representativas, onde elas estão e o que estão fazendo (Ordem dos Músicos e Associação dos Músicos)?

Jesuino: Há um defeito muito grande em tudo isso, os próprios artistas não se mobilizam com propriedade. A entidade virou um cabide de emprego e regalias. As entidades não fazem nada de extraordinário e importante.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

FESTIVAL MUNDO 2007 - João Pessoa (PB)


FESTIVAL MUNDO 2007 - João Pessoa (PB)
www.festivalmundo.com

Local: CONVENTINHO – CENTRO HISTÓRICO (veja o mapa no site)
Data: 14 e 15 de Setembro

ENTRADA: R$8
ANTECIPADO: R$6
PASSAPORTE: R$12

SHOWS

SEXTA-FEIRA (14/SET) - 19H

Volante Filipéia (PB)
Da Silva e a Usina Dub (PB)
Vamoz! (PE)
The Sinks (RN)
Vinil 69 (BA)
Vitrola (RN)
Scary Monsters (PB)
Retaliação (PB)
Dead Nomads (PB)

SÁBADO (15/SET) - 18H
Ecos Falsos (SP)
The Playboys (PE)
Meiofree (PB)
Encarnado (PB)
Sem Horas (PB)
Matiz (BA)
Fóssil (CE)
Os Reis da Cocada Preta (PB)
Pluma (PB)
Malaquias em Perigo (PB)

OFICINA
14H ÀS 18H
Passando o Som a Limpo

EXPOSIÇÃO DE ARTES
14 E 15 DE SET

MOSTRA AUDIOVISUAL
16H ÀS 18H

FEIRA DE NEGÓCIOS
Selos, produtoras, estúdios, lojas

LOUNGE
Verdeee
Novos&usados

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Estréia tardia de “Primo Basílio” em João Pessoa

A literatura, assim como o teatro – ver as inúmeras adaptações das peças de Shakeaspeare para a tela grande, é uma das grandes inspirações para o cinema mundial. No Brasil, importantes livros de grandes escritores, se tornaram importantes filmes nas mãos de grandes diretores. Só Graciliano Ramos teve três de seus livros já encontrados pelas adaptações cinematográficas, a citar Vidas Secas e Memórias do Carcére pelas mãos de Nelson Pereira dos Santos (1963 e 1984), e São Bernardo por Leon Hirszman (1972).
O escritor paraibano José Lins do Rego também encontrou suas adaptações cinematográficas. Apesar de nenhuma delas ter conquistado grandes elogios da crítica e do grande público, vale a citação do que foi rodado, como Pureza do português Chianca de Garcia (1940); Menino de Engenho (Walter Lima Jr., 1964); Fogo Morto (Marcos Farias, 1976) e Bella donna (Fábio Barreto, 1998). Este último, livremente baseado em Riacho doce.
Pelo Brasil, escritores da literatura portuguesa também têm aparecido no cinema, como é o caso de Eça de Queiroz. Com praticamente um mês de atraso, estréia hoje, em João Pessoa, em três salas de cinema, a adaptação brasileira de uma de suas obras mais conhecidas: O Primo Basílio, de 1878, com direção de Daniel Filho e elenco recheado de estrelas globais em ação, a exemplo de Fábio Assunção como Basílio, Glória Pires como Juliana e Reynaldo Gianecchini como Jorge. Débora Falabella interpreta a Luíza.
Mas esta não é a primeira vez a que o Brasil assiste na grande tela branca uma obra do escritor português. Em 2003, o cinema mexicano lançou sua versão para o Crime do Padre Amaro, 1875, pelo olhar do diretor Carlos Carrera a partir do roteiro de Vicente Lenero. Nem tão aclamada pela crítica, a produção mexicana despertou interesses tanto pela história de Eça de Queiroz quanto pela presença do astro Gael Garcia Bernal. Em 2005, Portugal também lançou sua versão cinematográfica para a obra lusitana. Realizado por Carlos Coelho da Silva, o filme bateu todos os recordes de bilheteria em Portugal.

De Lisboa para São Paulo

Ambientada na São Paulo de 1960, O Primo Basílio, se passa originalmente em Lisboa do século XIX e já tinha virado minissérie há 19 anos atrás na Rede Globo, também sob a direção de Daniel Filho. A obra conta a história da jovem Luísa, interpretada aqui por Débora Falabella, casada há três anos com o engenheiro Jorge, papel de Reynaldo Gianecchini.
A diferença aqui é que no livro de Eça, Jorge acaba se ausentando por um tempo de casa quando para o interior de Portugal. No caso da adaptação brasileira, Jorge precisa se ausentar por uns tempos para a construção de Brasília. Solitária, Luísa reencontra seu primo Basílio, uma antiga paixão, interpretado por Fábio Assunção e, com ele, começa um caso. O relacionando dos dois primos segue bem até que a empregada Juliana (Glória Pires) descobre cartas de amor trocadas entre os dois, e passa a chantagear Luísa.

Sobre Eça de Queiroz:
A estréia de Eça de Queiroz como escritor foi entre 1866/67, quando passou a publicar narrativas como O Réu Tadeu e Farsas no jornal Distrito de Évora. Daí em diante também passa a publicar poesias. Em 1870, em colaboração com Ramalho Ortigão, publica em folhetins no Diário de Notícias uma imaginária reportagem jornalística, O Mistério da Estrada de Sintra.
Em 1875, Eça publica seu primeiro romance: O Crime do Padre Amaro, que sai em folhetins na Revista Ocidental. Em 1878 é publicado o segundo romance: O Primo Basílio, primeiro grande êxito literário do escritor. Em 1879 escreve O Conde de Abranhos, que só foi publicado postumamente. Daí em diante, não pára. Veja mais:

Para ler Eça de Queiroz:
1880 - O Mandarim; 1883 - Alves & Ca (novela); 1884 - O Mistério da Estrada de Sintra; 1887 - A Relíquia; 1888 - Os Maias - romance que constitui a conseqüência de textos que deixa sem redação definitiva: A Capital e A Tragédia da Rua das Flores; 1900 - Após a morte do escritor, sai a público o primeiro volume de A Ilustre Casa de Ramires;

Outros filmes adaptados da literatura e do teatro:

Lolita ( de Stanley Kubrick, 1962, do romance homônino de Nabokov);
Um lugar ao sol (de George Stevens,1951, de An American tragedy, de Theodor Dreiser);
Razão e Sensibilidade (de Ang Lee, 1995, do livro homônimo de Jane Austen);
Janela Indiscreta (de Alfred Hitchcock, 1954, do conto Rear window, de Cornell Woolrich);
Hamlet ( de Kenneth Branagh, 1996, de Laurence Olivier, 1948, da peça homônina de Willian Shakespeare);
Uma rua chamada pecado (Elia Kazan, 1951, da peça A streetcar named desire, de Tenessee Williams).