Calina Bispo: O que é o PB Rock?
Jesuino: É uma lista de discussão, que reúne músicos, produtores, jornalistas e demais interessados para divulgar e promover a cena local, que existe desde o começo de 2006. Atualmente já temos cerca de 80 pessoas participando da lista.
Calina Bispo: Quanto à coletânea, como está sendo formada?
Jesuino: São abordados temas de interesse comum. Os que participam da lista foram os primeiros convocados, claro que primando pela qualidade artística e de produção musical. Criamos a lista PB Rock (paraiba rock) com o intuito de congregarmos um tanto da cena local, com isso também promovendo algumas idéias. No começo queríamos fazer uma coletânea no formato tradicional, quer dizer, gravação padrão em estúdio e prensagem de 1000 copias em cd. Até tentamos um projeto na Lei Municipal de Incentivo a Cultura, mas não fomos aprovados. Então dei a idéia de fazermos uma coletânea virtual, pois o objetivo é mostrar a cena musical local para o maior número de pessoas possíveis e aí conseguimos mostrar nossa proposta para uma empresa local de tecnologia que vai dar todo apoio.
Calina Bispo: E como estão os encaminhamentos para o lançamento da coletânea?
Jesuino: Está faltando o acabamento final do site. Serão 19 bandas em diversos estilos, com uma faixa para cada banda download em mp3 para as músicas e download para capa do disco. Teremos ainda agenda e informações sobre as bandas com imagem, links, etc. Ainda ressalto que esse tipo de produção com esse objetivo partindo de um grupo de discussão será inédito em todo país, o que pode dar margem para fazer outra coletânea no mesmo formato, com outras bandas.
Jesuino: Bom, já coloca João Pessoa e a Paraíba no circuito nacional dos festivais. Fomenta intercambio entre os músicos, bandas e os produtores.O público tem a chance de conhecer e ver novas bandas tocando com equipamentos de qualidade e com boa mídia. Nossa cidade hoje tem uma leva enorme de bandas nos mais variados estilos. Na impressa, por exemplo, não temos um espaço definido para falar, mostrar nossa cena...
Calina Bispo: Você acompanhou as duas últimas edições do Festival Mundo e do Aumenta que é rock. Há alguma diferença marcante entre eles?
Jesuino: Não há diferença alguma. É bom ressaltar que são eventos independentes sem patrocínios fortes, com verbas limitadas. Mas que são os melhores expositores da atual música pop local e nacional. Basta verificar a quantidade de bandas/artistas que estão na programação do Festival Mundo. Hoje com a crise na indústria fonográfica, devido ao avanço e popularidade da tecnologia, os festivais no país tornaram-se referencias para o que é ditado na atual cena musical.
Calina Bispo: Mas em João pessoa, onde a cena local também não tem espaço de difusão através das rádios, você acredita que festivais com propostas semelhantes acabam não contribuindo muito para divulgação das bandas pós-eventos?
Jesuino: Essa é uma discussão interessante.
Calina Bispo: Não seria o caso de se pensar em uma atitude desse segmento - quer dizer, os produtores desses eventos não deveriam sentar e avaliar as reais necessidades de toda a cadeia?
Jesuino: Exatamente. É necessário cumplicidade de todos os setores. Temos boas bandas e artistas, mas que não tocam nas rádios e não aparecem na tv e pouco aparecem nos jornais...
Calina Bispo: Será que a institucionalização, como aconteceu com o Abril Pró-Rock de Paulo André, desses festivais não é um caminho para mudar esse quadro?
Jesuino: Os festivais, claro, vão sempre precisar de dinheiro, principalmente das entidades públicas. Sem isso nada de substancial irá acontecer, a música fica subterrânea e obscura, mas é a característica da independência, sem cumplicidade movimentada por todos os setores, como falei, nunca irá se expandir. As músicas têm que tocar nas rádios, sair em tv, surgir novos eventos, conquistar mais espaços de apresentação.
Calina Bispo: Mas a música independente tem que ser obscura e subterrânea porque? Não cabe aos produtores desses festivais independentes, também lançar à luz, novos músicos, bandas e experiências?
Jesuino: A música independente é underground por natureza. Temos belos exemplos como o inicio de carreia de bandas como Raimundos, Planet Hemp, Skank, tiveram um começo ralando nos shows, festivais e turnês independentes, até serem descobertos pelas grandes gravadoras. Só que hoje temos uma outra verdade. Um músico local definiu anos atrás o que significa esse movimento, digamos assim. Disse ele que o que é independente hoje será mainstream amanhã.
Calina Bispo: O que você destaca do cenário paraibano atual?
Jesuíno: Temos algumas das bandas e artistas mais talentosos da região e até do país como Cabruêra, Chico Correa, Star 61, Escurinho, Dead Nomads, além de uma nova leva interessante de bons grupos. A renovação é constante. Agora com a Internet o modelo de divulgação e promoção é grandioso e caótico. Na verdade temos que saber do modelo existente no passado comparado a uma nova verdade de mercado.
Calina Bispo: Esse pessoal que você citou, com exceção do Dead Nomads, forma um grupo amadurecido da música pessoense, pois já tem caráter de exportação (Cabruêra e Chico Corrêa são exemplos disso), e Star 61, todos contemplados em projetos musicas ou em leis de incentivo...
Jesuino: Sim, não há sustentação financeira para esses artistas aqui em nosso Estado. For depender de shows e vendas de discos... mas esse problema é em todo país... além disso os citados mostram acentuada qualidade musical, é justo pleitearem incentivos das leis adequadas. Acho q o estado deveria participar mais com políticas apropriadas, duradouras e menos burocráticas...
Calina Bispo: O que falta a grupos como Dead Nomads, por exemplo, que está na estrada a pelo menos uma década, tem público de gerações diferentes, mas que não exporta nem está nesse circuito de incentivos?
Jesuino: Primeiro que a sonoridade da banda não tem apelo para comprar com esse modelo de exportação. Segundo, é preciso tocar nas rádios para atingir um maior publico. Terceiro, é sobre essa política das instituições públicas que precisam abranger a maior quantidade de artistas possíveis, claro incluindo maiores valores nos incentivos.
Calina Bispo: Não faltam atitude e articulação entre músicos e produtores? Ou ser contemplado e ser inserido nesse cenário privilegiado pode significar sinônimo de dependência?
Jesuino: Sim, pode ser, é um lance de muita independência para pouca autonomia... é uma seqüência natural: tenho uma boa música, preciso mostrar meu som nos palcos, nas rádios, nas tvs, nos jornais. Preciso ter dinheiro para gravar um disco, preciso de incentivos fiscais, etc. Sem um pensamento comum, fica tudo meio a deriva, valendo pela sorte do destino.
Calina Bispo: Que Festivais você destaca em João Pessoa?
Jesuino: De interessante o Aumenta Que é Rock, que trouxe nomes significantes de vários Estados: por exemplo Cascadura, Jason, Honkers, Lucy and The Popsonics, etc. Por sinal foi um evento de muita coragem pra fazer isso. Agora o Festival Mundo segue a mesma trilha e ainda acrescenta discussões e outras artes. Mas você pode encontrar outros eventos com o Rock 4X4 no Bairro dos Funcionários que teve outras edições...
Calina Bispo: Quanto as entidades representativas, onde elas estão e o que estão fazendo (Ordem dos Músicos e Associação dos Músicos)?
Jesuino: Há um defeito muito grande em tudo isso, os próprios artistas não se mobilizam com propriedade. A entidade virou um cabide de emprego e regalias. As entidades não fazem nada de extraordinário e importante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário