segunda-feira, 14 de abril de 2008



A primeira Mostra de Teatro de Grupo, realizada entre os dias nove e 13 de abril, no Teatro Lima Penante, organizada pelo grupo Ser Tão Teatro, provocou uma inquietude na classe teatral paraibana que há muito não era vista.

O evento apresentou-se como oportunidade aos grupos paraibanos de refletirem em torno da necessidade de um trabalho qualificado não de uma organização coletiva de atores, mas antes como um contraponto artístico, onde a poética da ação teatral se torna questão central nesse tipo de trabalho.

Com o repertório de espetáculos apresentados pelo coletivo Clowns de Shakespeare, de Natal, (“Muito Barulho Por Quase Nada”, “O Casamento” e “Fábulas”), por exemplo, que colocaram em palco, humor e inteligência de forma marcante, foi possível fazer uma nítida distinção entre o teatro de elenco e o teatro de grupo.

O fator que mais reforça essa diferença é reconhecer no trabalho de um elenco estável como o do Clowns, a construção de uma identidade poética coletiva por meio do treinamento do ator. Este, por sua vez, conquista um espaço maior para criação através de motivações individuais, provocados muitas vezes, pela pessoa do diretor, neste caso, o Fernando Yamamoto, diretor e um dos fundadores do grupo potiguar.

O grupo de Natal tornou-se referência e exercício de reciclagem para a cena local, que foi representada em palco, pelo espetáculo Quebra-quilos, do grupo Alfenim, sob a direção de Márcio Marciano. Vale lembrar, inclusive, que tanto o Quebra-quilos quanto o espetáculo Vereda da Salvação (grupo Ser Tão Teatro), serão encenados no XII Festival Nacional de Artes (FENART), de 18 a 26 de abril.

Essa primeira edição da Mostra de Grupo ofereceu àqueles que participaram das oficinas, painéis e apresentações, alguns procedimentos utilizados pelos Clowns, que se tornaram uma referência no âmbito teatral nordestino e brasileiro.

Além do repertório dos Clowns e do Quebras-quilos, a mostra contatou ainda com a presença do grupo pernambucano TEA, com uma apática montagem de Metamorfose, de Kafka. Encerrando a mostra um momento ousado, atrevido e muito violento, mas que revelou a energia em cena do ator e diretor Silvero Pereira.

Adaptado de um texto do não menos ousado Caio Fernando Abreu, o monólogo Uma Flor de Dama, do Grupo Parque, do Ceará, colocou o público não como um espectador em uma sala de teatro, mas sim como testemunha ocular de um verdadeiro “barraco”, daqueles que acontecem em mesas de bares, na rua, ou até mesmo na sua casa!

Tudo isso cheio de ironias e até mesmo uma certa sensualidade em uma palco que não era palco, em um teatro que não era teatro. Naquele momento, era apenas um bar...e nós, apenas ocupantes das outras mesas enquanto a Dama da Noite, soltava toda sua verborragia e assim encerrava a primeira edição da Mostra de Teatro de Grupos.

Vamos aguardar 2009 e com ele, a segunda edição deste projeto que agora assume a responsabilidade e o compromisso de continuar provocando a cena teatral local, colocando no palco e à mesa, debates e apresentações que estimulem a reflexão dos diversos grupos de teatro na Paraíba e no Nordeste em geral.

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