quarta-feira, 16 de abril de 2008



O espetáculo Quebraquilos, montagem do grupo paraibano Alfenim de Teatro, sob a direção de Márcio Marciano, é um trabalho de um coletivo que optou como objeto de pesquisa, por um evento praticamente desconhecido da historia da Paraíba.

A escolha pela revolta dos Quebraquilos, ocorrida em 1874, tem uma clara conotação política. Tudo é política no espetáculo. Uma delas é a de não permitir que as lutas populares sejam difamadas, e muito menos abstraídas pela história dos livros didáticos, como aqueles que estudamos quando pequenos.

É a principal questão colocada em palco. Mas o texto do grupo Alfenim trata de várias outras revoltas menores que bem demarcadas durante toda a peça. Um exemplo é a cena da revolta contra o recrutamento militar, ou aquela contra os impostos cobrados na cena da feira, ou contra a aplicação de novos padrões de pesos e medidas como na hora de vender o quartinho de cachaça...

Não falta revolta. As ações dos atores, os recursos cênicos, o canto, o coro, a música, por exemplo, estão sempre reforçando essa sensação de revolta...É como se Márcio Marciano, quisesse chamar atenção para esse período histórico do Nordeste, onde a população de várias cidades se encontrava prestes a enfrentar de forma violenta, as opressões, mandos e desmandos freqüentes nas lutas de classes e na economia local.

É um grito que chama pela justiça, mas antes disso, é um choque que pretende acelerar a pulsação que romperia a precária relação entre as classes sociais, e o Estado monárquico.

Tudo isso se apresenta ao público não como em uma aula onde a professora vai ditando aos alunos, no caso o espectador, frases que nunca foram lidas nos livros de História da Paraíba. Vemos essas revoltas em palco, na forma como os atores lidam com o texto, na multiplicidade de personagens que eles assumem e nas marcações de cena, que lançam mão da palavra que leva ao canto, ao coro, ou vice-versa.

O cenário traduz perfeitamente o espírito do texto, integrando atores e platéia numa feira quadrada – em palco italiano. Claro que essa sensação é mais facilmente percebida quando o espetáculo é encenado em uma sala, como o foi na Escola Piollin, ou em teatro de arena – como será no XII FENART.

Transferindo para um palco italiano na abertura da I Mostra de Teatro de Grupo, essa integração ficou mais a cargo dos atores em cena, alinhados, lado a lado, que passam todos, a encarar o público de frente. Quando somos encarados, somos obrigados a ouvir, ver, e presenciar a realidade econômica da Paraíba, em tempos de província.

Mesmo assim em momento algum do espetáculo, esquecemos que estamos assistindo a uma montagem de teatro e que este teatro, sem ser didático, nos apresenta um fato histórico e faz uma defesa a todos que estiveram envolvidos nas revoltas populares.

Há cenas memoráveis, principalmente entre a dupla Soia Lira e Zezita Matos. É uma dupla sinérgica, onde o olhar de uma se comunica com o olhar da outra de forma clara, e quem ganha é quem testemunha isso, no caso, nós, espectadores.

Como esquecer cenas tipo a do roí roí, da banana, da feira, dos discursos violentos, da negra se insinuando para a personagem de Daniel Porpino, apresentando as suas “medidas”. Pois é, a peça pergunta isso em música, em ação, em história, em coletivo, ou individual.

Mas, quanto vale mesmo a sua medida? Quebra-quilos, quebra-litros, quebra-metro, quebra-peso, quebra....

segunda-feira, 14 de abril de 2008



A primeira Mostra de Teatro de Grupo, realizada entre os dias nove e 13 de abril, no Teatro Lima Penante, organizada pelo grupo Ser Tão Teatro, provocou uma inquietude na classe teatral paraibana que há muito não era vista.

O evento apresentou-se como oportunidade aos grupos paraibanos de refletirem em torno da necessidade de um trabalho qualificado não de uma organização coletiva de atores, mas antes como um contraponto artístico, onde a poética da ação teatral se torna questão central nesse tipo de trabalho.

Com o repertório de espetáculos apresentados pelo coletivo Clowns de Shakespeare, de Natal, (“Muito Barulho Por Quase Nada”, “O Casamento” e “Fábulas”), por exemplo, que colocaram em palco, humor e inteligência de forma marcante, foi possível fazer uma nítida distinção entre o teatro de elenco e o teatro de grupo.

O fator que mais reforça essa diferença é reconhecer no trabalho de um elenco estável como o do Clowns, a construção de uma identidade poética coletiva por meio do treinamento do ator. Este, por sua vez, conquista um espaço maior para criação através de motivações individuais, provocados muitas vezes, pela pessoa do diretor, neste caso, o Fernando Yamamoto, diretor e um dos fundadores do grupo potiguar.

O grupo de Natal tornou-se referência e exercício de reciclagem para a cena local, que foi representada em palco, pelo espetáculo Quebra-quilos, do grupo Alfenim, sob a direção de Márcio Marciano. Vale lembrar, inclusive, que tanto o Quebra-quilos quanto o espetáculo Vereda da Salvação (grupo Ser Tão Teatro), serão encenados no XII Festival Nacional de Artes (FENART), de 18 a 26 de abril.

Essa primeira edição da Mostra de Grupo ofereceu àqueles que participaram das oficinas, painéis e apresentações, alguns procedimentos utilizados pelos Clowns, que se tornaram uma referência no âmbito teatral nordestino e brasileiro.

Além do repertório dos Clowns e do Quebras-quilos, a mostra contatou ainda com a presença do grupo pernambucano TEA, com uma apática montagem de Metamorfose, de Kafka. Encerrando a mostra um momento ousado, atrevido e muito violento, mas que revelou a energia em cena do ator e diretor Silvero Pereira.

Adaptado de um texto do não menos ousado Caio Fernando Abreu, o monólogo Uma Flor de Dama, do Grupo Parque, do Ceará, colocou o público não como um espectador em uma sala de teatro, mas sim como testemunha ocular de um verdadeiro “barraco”, daqueles que acontecem em mesas de bares, na rua, ou até mesmo na sua casa!

Tudo isso cheio de ironias e até mesmo uma certa sensualidade em uma palco que não era palco, em um teatro que não era teatro. Naquele momento, era apenas um bar...e nós, apenas ocupantes das outras mesas enquanto a Dama da Noite, soltava toda sua verborragia e assim encerrava a primeira edição da Mostra de Teatro de Grupos.

Vamos aguardar 2009 e com ele, a segunda edição deste projeto que agora assume a responsabilidade e o compromisso de continuar provocando a cena teatral local, colocando no palco e à mesa, debates e apresentações que estimulem a reflexão dos diversos grupos de teatro na Paraíba e no Nordeste em geral.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Surto ou susto,
não sei,
é f...