quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Amor á Flor da Pele

“Amo-te tanto!E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz”

Florbela Espanca. Os Versos que Te Fiz.


A sinopse é bem simples. Dois casais que são vizinhos de apartamento descobrem que seus respectivos parceiros estão tendo um caso. O marido traído é um funcionário público aspirante a escritor. A esposa enganada é uma secretária competente e discreta que compra o mesmo presente para a esposa e para a amante de seu chefe. O marido infiel também compra presentes iguais para a amante e para sua mulher. A diferença é que, nesse caso, as duas são vizinhas de apartamento.

E daí?! E daí que até poderia parecer um clichê, ou algo do tipo “O Quatrilho” (Fábio Barreto, 1994), onde os casais acabam descobrindo as traições e, por vingança ou atração física, acabam trocando definitivamente de parceiros. No caso de Amor à Flor da Pele (2000), o diretor chinês Wong Kar-wai não permite ao espectador essas previsibilidades. Pelo contrário, o drama de um romance – que pelo próprio título do filme - teria tudo para oferecer a quem está assistindo cenas tórridas de amor, não anda nem desanda, apenas insinua e provoca.

Mas isso não torna o sétimo filme desse diretor que foi o primeiro cineasta chinês a ganhar o prêmio de melhor direção em Cannes, uma obra chata. Ao contrário, reafirma como ele sabe fazer cinema muito bem. Kar-wai olha o universo feminino de uma sutileza e sensualidade que às vezes o espectador chega até a questionar se isso era possível na Hong Kong de 1962, período em que é ambientada toda a história.

As seqüências mais casuais do cotidiano das pessoas são carregadas de poesia. Uma poesia erótica que reforça o brilho da elegância em cena da atriz Maggie Cheung. Realmente o amor está à flor da pele. Não nos cônjuges infiéis, mas no “casal” traído, ou seja, a sra Chan e sr Chow Mo-wan (Tony Leung, aliás, estupendo!). Na trama, estes dois traídos acabam desenvolvendo um jogo para descobri o9 que está ausente, para sentir o que sentiu o casal traidor.

Apesar disso o filme não fala de traição, mas sim de uma linda história de amor que não se concretiza. Um amor platônico sem a chatice da previsibilidade. A evolução das personagens durante as mais de duas horas se passa tão naturalmente que você não entende porque o filme tem que acabar, afinal os “traídos” se unem numa cumplicidade que faz a gente esquecer a solidão dos dois no início do filme. . Em dado momento a sra Chan define o destino dos personagens e diz: “Nós não seremos iguais a eles”. Pronto! O que imaginar mais?! Ah, Kar-wai imagina sim, e ao manipular de forma maravilhosa o som e a imagem, o resultado final é esta obra prima.

Delicado, o filme também arrebata o espectador que a todo o momento está esperando pelo menos um beijo entre esses dois cúmplices. E aí uma história que no início é particular, se torna universal, pois o filme tem várias camadas de interpretação que vão além do amor platônico entre duas pessoas. Tem a camada política do regime ditatorial. Tem a Revolução Cultural. Tem o descontrole populacional, que inchava cada vez mais e grave crise econômica do país

Renomado diretor, Kar-wai já lançou a continuação dessa história “mal-resolvida”, que é o filme 2046 – alusão ao número do quarto de hotel que a sra Chan e sr Chow Mo-wan se encontravam para conversar e fugir da solidão de suas vidasNão se pode deixar de reforçar o papel importantíssimo da música neste filme. As músicas se repetem durante o filme, especialmente “Yumeji’s Theme”. Essa combinação e repetição não leva à exaustão, muito pelo contrário,mas antes eleva a sensação de sensualidade das cenas.

Um comentário:

Clique Aqui disse...

Oi Calina! Este filme é muito bonito. Lembro ter visto no Bangüê há um tempão. Mas entrei aqui para parabenizar você e a equipe que fez o boletim informativo da Funesc. Bem condensado e com informações muito úteis. Bom trabalho! A única ressalva que faço - pode até ser problema do meu yahoo - é que uma pontinha do html ficou cortada no lado direito. Tem uns números de telefone, por exemplo, que não dá pra ver. Mas foi só uma pontinha. Não compromete o boletim. Aguardo as próximas edições! Beijo!