Esta matéria foi publicada hoje no Jornal A União. Infelizmente não possível publicá-la na íntegra. Então, resolvi colocá-la aqui. Na foto abaixo, o diretor do filme Marcus B]Vilar e o diretor de fotografia, João Carlos Beltrão (na camera).
“Neste lugar farei o templo do meu sonho/ Com pedaços de mar/ com lembranças de corpos// Porei luzes fulgentes nos seres obscuros/E não mais saberei dos limites do mundo”.
Estes versos de Vanildo Brito são dedicados à Ponta do Cabo Branco, um dos cartões postais mais importantes da Paraíba. Essa paisagem que já foi tema de tantas expressões artísticas, ganha mais uma homenagem e reflexão, desta vez, do cinema paraibano.
Após o documentário sobre Ariano Suassuna - O Senhor do Castelo, e a ficção O Meio do Mundo, o cineasta paraibano Marcus Vilar apresenta um novo gênero em sua filmografia, o filme-poema em curta-metragem “Duas Vezes Não se Faz”, sobre a Ponta do Cabo Branco. O lançamento, aberto ao público e com entrada gratuita, acontece neste sábado (6), ás 11h no Cine Multiplex do Shopping Tambiá.
Em sua filmografia, Marcus Vilar sempre procurou abordar aspectos e tons distintos em cada um de seus filmes. Do tom árido e seco de A Canga no cariri, ao verde e colorido do Meio do Mundo no brejo, à fantasia e a descoberta do imaginário de Ariano Suassuna em O Senhor do Castelo.
Agora Vilar experimenta novos aspectos nesta nova produção, que se dedica às cores da Ponta do Cabo Branco que tanto inspirou nomes como Cátia de França, José Américo de Almeida, Hermano José, e muitos outros artistas da terra. E foi em Hermano José que Marcus Vilar encontrou o poema que dá nome ao filme.
“Na pesquisa do vídeo/filme encontrei vários poemas e crônicas não só sobre o Cabo Branco, mas falando da natureza de uma maneira geral e quando me deparei com o poema de Hermano José, um dos primeiros artistas plásticos a pintar esse monumento ecológico dos mais importantes do Brasil. Não pensei duas e foi uma das primeiras coisas que me veio a cabeça antes do roteiro ser iniciado, além de que, uma das pessoas a quem dedico o filme, é a ele. Nada mais justo”.
Esta é a primeira vez que Marcus Vilar utiliza tecnologia digital na captação de imagens, apesar de ter sido finalizado em 35 mm. “È uma experiência nova, meus projetos anteriores foram filmados em 35 mm e a qualidade ainda é insuperável. Mas devidos aos custos de realizar em película e esse trabalho ter sido gravado por etapas, o vídeo facilitou. O resultado final me agradou, mas nada como filmar em 35 mm”.
E porque fazer um filme sobre a Ponta do Cabo Branco? Diz Vilar: “A olho nu, já percebia que a barreira estava se esvaindo e quando comecei a pesquisar e ver fotos e relatórios mais detalhados sobre o local, entendi o quanto era urgente realizar um filme usando o cinema pra dar esse grito de alerta para a preservação de um dos mais importantes monumentos naturais do Brasil”.
Ao ser perguntado sobre a escolha de fazer um poema visual ao invés de uma ficção, ou mesmo um documentário, o cineasta responde afirmando que tomou essa decisão durante sua pesquisa.
“Enquanto fazia a leitura de textos de José Américo de Almeida, Luiz Augusto Crispim, Hermano José, Ascendino Leite e Vanildo Brito, escrevendo em verso e prosa o Cabo Branco, me vi diante de uma possibilidade de penetrar no universo que eu queria abordar fazendo também um poema imagético”.
A Ponta do Cabo Branco é pauta polêmica e objeto de estudo em diversas áreas científicas. Para abordá-la de forma responsável, o cineasta contou com a consultoria de diferentes técnicos, profissionais e especialistas.
“Procurei pessoas especializadas ligadas a geografia, ecologia, meio ambiente e com isso fui me inteirando tecnicamente sobre o que escolhi pra filmar, que era a Ponta do Cabo Branco. Convidei os professores Paulo Rosa, Tarcisio Cordeiro, Ligia Tavares e o critico de cinema Wills Leal para me darem as coordenadas e orientações técnicas. Com esses dados nas mãos e com os poemas e crônicas escolhidos, fui construindo o roteiro. Foi um processo natural e sem muitas dificuldades”, declara.
Apesar da consultoria técnica, Vilar observa que o filme não se pretende ser panfleto de causa alguma, antes o resultado de seu olhar enquanto cidadão. “O Cabo Branco é um símbolo mundial se falando de meio ambiente e um lugar paradisíaco”, afirma. “Não entro na questão técnica, falo de um símbolo e esse símbolo está morrendo e isso vem de muito tempo, não é de agora. A degradação vem vindo e se você tem um espaço reservado pra ser visto como um templo da ecologia, acho que esse lugar precisa ser cuidado e preservado e não por mais construções e vender terrenos”.
Falar da Ponta do Cabo Branco hoje é falar também sobre a Estação Ciência, inaugurada em 30 de julho deste ano. Ciente disso, o cineasta enfatiza: “Não sou contra a Estação Ciência, sou contra ao lugar em que foi construída. Aproveito e cito um poema que foi utilizado no filme, de José Américo de Almeida, de 1957: ‘Observei a plástica do cabo/ um monstro de cabeça verde e língua amarela estirada dentro da água.// Lambido pelos vagalhões e por lufadas corrosivas,/ vai perdendo o seu porte,/ sem nenhuma proteção.// De branco só tem o nome’.”
Para encerrar, o cineasta afirma que o filme, além de ser um grito de alerta também é um lampejo de esperança a ser despertado nas próximas gerações. “No desfecho do filme mostro crianças assistindo a uma aula no pé da barreira. Entendo que esse final é uma possibilidade de ainda acreditar que através da educação possamos ter um mundo mais humano e mais respirável”, conclui.
Com direção e roteiro de Marcus Vilar e produção de Durval Leal Filho, o filme foi realizado através da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de João Pessoa, (Fundo Municipal de Cultura), com Produção do Para’iwa e Ponto de Cultura, e apoio da UFPB/PRAC/COEX. No lançamento, o DVD vai estar disponível para venda.
FICHA TÉCNICA DO FILME
Direção - Marcus Vilar
Roteiro - Marcus Vilar
Produção - Durval Leal Filho
Consultoria - Ligia Tavares - Paulo Rosa - Tarcisio Cordeiro
Consultoria de roteiro - Ligia Tavares - Wills Leal
Fotografia e Câmera – João Carlos Beltrão
Som Direto – Lúcio Cesar
Edição de som – Guga S. Rocha
Montagem - Marcus Vilar - Carlos Carvalho - Durval Leal Filho
Narração - Luiz Carlos Vasconcelos
Música Original - Eli-Eri Moura
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