segunda-feira, 5 de novembro de 2007

E aí, o vinil está de volta, ou nunca foi embora!?

Durante I Encontro de Rappers e Repentistas em Campina Grande (de 26 a 28 de outubro), o site do Ministério da Cultura anunciava, entre outras coisas, pela pernambucana Fábrica Estúdios, a gravação e lançamento em vinil dos shows que foram apresentados durante o Rap & Rep. Não soaria tão curiosa a notícia se o registro fosse em Cd, mídia dominante no mercado fonográfico brasileiro.

Artigo de colecionador e utilizado, principalmente, por DJs de música eletrônica e DJs do movimento Hip Hop, o vinil atualmente é produzido apenas em uma única fábrica (Poly Som) em toda a América Latina, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, no bairro de Belford Roxo.

A beira da falência, a Poly Som abriga, além dos equipamentos, o saber artístico e artesanal que envolve todo o processo de prensagem sonora que vem sendo feita há mais de 40 anos. De olho nesse patrimônio é que o Ministério da Cultura deu início juntamente com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), ao processo de registro de Patrimônio Cultural Imaterial da fábrica Poly Som.

Primeiro o Ministério da Cultura sugeriu ao IPHAN, como informa Álvaro Malaguti, da Secretaria de Políticas Culturais do MINC, o registro da fábrica no Patrimônio Imaterial. Junto com isso, o Mistério está tentando desenvolver uma estratégia de ativação da demanda para a fábrica.

Segundo Malaguti, a fábrica está com muitas dívidas, e tem-se a possibilidade de ativar a demanda de produção de vinil para a fábrica. Espera-se que estas encomendas gerem o capital mínimo para serem pagas as dívidas. “Para isso estamos conversando com artistas e selos de todo o Brasil para que estas pessoas prensem seus trabalhos em vinil e que assim a fábrica possa continuar funcionando. O MINC também vai encomendar uma série de conteúdos para distribuição entre DJs e o movimento Hip Hop”.

Enquanto mídia sonora, para o Ministério da Cultura, o vinil é um produto que também pode contribuir significativamente para a difusão da música brasileira pelo mundo afora. Como o mundo afora é bastante expansivo e o Brasil adentro não produz essa mídia com tanta freqüência.

“O registro de patrimônio imaterial não está relacionado ao prédio e aos equipamentos, mas sim ao saber fazer que tem nas pessoas que trabalham na fábrica a mais de 40 anos”, enfatiza Malaguti, que ao ser perguntado sobre a razão dessa iniciativa, afirma que “o Ministério está motivado pelo entendimento de que o vinil ainda é um suporte muito importante para diversas experiências estéticas de vários segmentos musicais como o tecno, eletro e drum base. Estes são todos segmentos da música que usam o vinil, e, claro, fundamentalmente o rap usa o vinil”.
Malaguti explica que outros motivos também estimulam o MINC nessa revalorização do vinil. Entre eles está sua fundamental presença nos segmentos musicais citados acima. E é nesse meio que se abre uma excelente oportunidade de difusão da música brasileira através das experimentações feitas por DJS de todo o mundo.

“O próprio movimento rap já chamava atenção para isso. Então, garantir que a música brasileira também seja distribuída, pelo menos minimamente, em vinil, contribui para a circulação dela pelo mundo. Ou seja, prensar música brasileira em vinil contribui para que ela seja utilizada pelos DJs no mundo afora em seus trabalhos nas pistas de dança, que é um trabalho fundamentalmente de colagem, de mixagem e de apropriação. Esse é o segundo motivo que leva o Ministério a ter uma preocupação com a cultura e produção do vinil”, observa.
Como uma das atenções do MINC está voltada para o investimento na dimensão econômica e territorial da cultura brasileira, não podia deixar de ser incentivador o fato de que há uma necessidade de mercado para o vinil, mesmo que timidamente no Brasil, na Europa esse mercado se mostra bastante promissor devido ao grande número de DJs que por lá residem e experimentam.
“Existe uma dimensão econômica nesse circuito que a gente precisa conhecer melhor e o vinil é um elo fundamental dessa cadeia econômica. Não é uma coisa de massa, mas, por exemplo, na Europa, ainda se vende vinil e se prensa essa mídia, justamente por conta desse segmento de DJs. Caetano lançou o ano passado em vinil, Radioread fez toda uma estratégia aí”.
Quanto à prensagem de conteúdos sonoros nacionais, Malaguti explica que isto acontecerá em duas frentes. A primeira diz respeito às coletâneas propostas pela iniciativa privada – ou seja, os selos e artistas em geral, e o segundo é referente aos acervos públicos do Brasil. “Esse pacote todo, com produtos do Ministério e produtos da iniciativa privada formarão um pacotão. A gente pretende fazer um evento de lançamento disso. Esse evento pretende chamar a atenção para a importância de vinil e da fábrica”, observa Malaguti.
Quanto à distribuição de todo esse material que virá a ser lançado em vinil pelo MINC, Malaguti afirma que “o conteúdo que for do circuito comercial, o pessoal vai ter mobilidade para vender e distribuir da forma que quiser. Já o conteúdo que vier dos acervos públicos, em um primeiro momento, não será vendido. O Mistério estuda distribuir isso pelo segmento, entre os djs de música eletrônica e os djs de rap, além de criar um acervo em alguns lugares também. Essa primeira leva lançada pelo ministério do conteúdo que é público, a agente pretende fazer uma distribuição orientada”.

Sobre o vinil

Primeiro Thomas Edison em agosto de 1877 gravou “Mary Had a Little Lamb” em sulcos sobre cilindro de cera. De lá, pulamos para 1957, ano em foi gravado o primeiro vinil brasileiro em estéreo. Era “Isto é som estereofônico”, que tinha o comediante Oscarito cantando marchinhas de carnaval.
Esse som estereofônico era reproduzido por uma peça de vinil preto, redonda e com um buraco no meio: o famoso bolachão. Na fábrica Poly Som, a prensagem ainda é feita de forma estritamente artesanal: A partir do áudio fornecido pelo cliente, corta-se o acetato que é banhado em prata. Depois, na banheira e galvanoplastia os sulcos são preenchidos por níquel gerando a matriz, que é colocada na máquina de prensagem.

Sobre o Patrimônio Cultural Imaterial – segundo a Unesco
A UNESCO define como Patrimônio Cultural Imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas e também os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes são associados e as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural.
O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.

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