segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Um novo teatro surge na Universidade Federal da Paraíba

Vereda da Salvação encerrou, neste domingo, 16 de dezembro, no Lima Penante, curta e disputada temporada da primeira montagem do recém implantado curso de Artes Cênicas da Universidade Federal da Paraíba. Com texto de Jorge Andrade, Vereda foi adaptada sob a direção e produção da professora Cristina Streva e atuação de alunos do curso, além da convidada, em excelente atuação, Cida Costa.

Montada pela primeira vez em 1963, a peça é inspirada em fatos reais e tem como tema a repressão policial desencadeada contra a comunidade de Catulé, em Minas Gerais, no começo do século XX. Nesta encenação paraibana, Vereda mostra em uma montagem visceral e trágica, o quanto o fanatismo religioso é reforçado pelo analfabetismo e pela falta de perspectivas de um povo marcado pelas secas sertanejas. Como agravante, uma ditadura militar brasileira.

Aprovado pelo público paraibano, que lotou todas as sessões, o espetáculo agora depende do investimento que a produção cultural paraibana possa apresentar. Segundo Streva, para que ele retorne em nova temporada, faz-se necessária a boa e velha parceria entre órgãos públicos e privados, no sentido de reconhecerem de forma profissional, o trabalho que o grupo está desenvolvendo nesta montagem.

Espera-se, a partir do sucesso que marcou essa primeira temporada que teve patrocínio da Fundação Nacional de Cultura, que os patrocinadores do teatro paraibano invistam também nesse novo teatro que está surgindo através da Universidade Federal da Paraíba.

O que se revela não é a apenas o talento de todos que estão envolvidos nessa produção, mas a escola acadêmica que se confirma através de Vereda da Salvação. É possível observar que esta primeira turma está antecipando a semente de um curso que tem tudo para se tornar, ao longo dos próximos anos e próximas pesquisas, referência para o profissional das artes cênicas no Nordeste.

Tensão é reforçada por elementos trágicos

É incomodo ver como os atores foram levados ä exaustão. Uma exaustão mental e física que faz com que a platéia também fique em suspense. Essa é a primeira sensação que se tem a cada novo instante. Elementos como um bebê e uma deficiente física, servem para reforçar esse sentimento.

Uma tríplice: Artuliana e a mãe, Joaquim e a mãe, Manoel e sua filha. São eles que polarizam o palco e a narrativa dramática. Streva soube construir essa cena de forma simples, mas que nos oferece, enquanto platéia, cada parte daquele todo formado pelos três casais, de onde surgem os três conflitos que levam a um final extremamente trágico.

As funções dos objetos em cena apresentam significações múltiplas, de forma lúdica, agressiva e funcional. Podem ser casas ou prisões. O figurino não excede ao texto nem ao cenário. A roupa deixa de significar apenas roupa. E em tudo isto, vê-se que o texto de Andrade ainda é revisitável, atual, e que sempre será um desafio para quem o encenar.

Que a peça circule pelos festivais do país, que as mostras de teatro recebam essa montagem e que o público e o privado, sem trocadilhos, invistam em sua popularização.



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