O Maior Amor do Mundo é um filme que a cada enquadramento vai despertando no espectador a curiosidade de descobrir de onde vem esse amor, e àqueles mais céticos, o questionamento se realmente o maior amor do mundo existe. Desde a primeira cena, já se vê que Cacá Diegues apresenta uma trama extremamente psicológica, e aí, a câmera e a fotografia reforçam essa sensação a cada cena.
O filme é todo narrado sobre o ponto de vista de Antônio, personagem de José Wilker. Antônio é um astrofísico que descobre que tem um tumor inoperável no cérebro e que vai morrer em poucas semanas. A cena em que ele conta ao pai (Sérgio Britto) que vai morrer é impressionante e termina assim: “Você veio morrer no Brasil?...” - pergunta o pai. “Pai, você está com muito mau hálito!” – responde o filho. Este é um dos mais interessantes diálogos do filme, é duro e angustiante, mas também confirma a excelência dos dois atores e vale a pena ser lembrado.
Diante deste diálogo, o primeiro do filme entre pai e filho, Cacá Diegues já demonstra a acidez que existe na relação entre pai e filho – o que acaba provocando toda a narrativa do filme. E não é só isso. Logo nos primeiros minutos, as seguidas seqüências em primeiro plano transmitem a angustia pessoal de Antonio, que busca ao longo do filme, os instantes finais de sua vida. O que faz esses instantes serem únicos não é nem tanto a certeza de morte, mas a certeza de tudo que a personagem não viveu.
Wilker soube construir uma personagem que ao mesmo tempo se mostra arisca ao mundo, e isso é freqüente quando Cacá Diegues retorna a épocas distintas da vida de Antônio, de criança ao jovem que acaba de conquistar uma bolsa de estudos no mesmo dia do enterro de sua mãe.
Localizado, em sua maior parte, na Baixada Fluminense, o filme também pretende falar um pouco sobre a cidade do Rio de Janeiro e seus moradores. Com uma geografia urbana bem delimitada, Cacá Diegues (Deus é Brasileiro e Bye Bye Brasil) provoca na personagem de Wilker, a necessidade de deslocamento constante, sempre a procura de conhecer uma vida que não conheceu.
Sem linearidade temporal, no começo o filme pode até confundir o espectador menos atento, mas do meio pro fim, os saltos no tempo e no espaço começam a fazer sentido. Para isso, a fotografia de Lauro Escorel (Batismo de Sangue e Bye Bye Brasil) é fundamental, pois ela narra o estado de alma de Antônio e também marca diferença entre passado e presente.
Do escuro para o branco total. Este é o percurso que o filme traça na vida de Antônio. E assim como a fotografia, a música também é um elemento crucial na localização de época do personagem e aqui o diretor conta com a parceria de Chico Buarque, com quem tinha trabalhado pela última vez em Bye Bye Brasil (1980) e que é responsável pela melosa e bela música tema do filme.
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