segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Música na poesia, ou poesia na música?! Fragmentos II

OPUS 10

Sonhei ter sonha
Que havia sonhado

[...]
Que estava sonhando.

[...]
Estar em você
Estar? ter estado,
Que é tempo passado.

[...]
Um dia sonhei.
[...]
Que tinha sonhado.

Manuel Bandeira.

Música na poesia, ou poesia na música?! - Fragmentos I

O RITMO DISSOLUTO

Os aguapés dos aguaçais
Nos igapós dos jupurás

Bolem, bolem, bolem.
Chama o Saci: Si, si, si, si!
- Ui, ui, ui, ui, ui! viva a Iara
[...]

A mameluca é uma maluca.
Saiu sozinha da maloca -
[...]

Manuel Bandeira

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Aos conterraneos de Herbert Viana, um sinto muito...

(foto de Carolina Bittencourt) Quem em João Pessoa – por exemplo, no final da década de 80, não se aproveitou daquela seqüência histórica de shows que aconteciam no Espaço Cultural, onde tocaram Legião Urbana, Engenheiros do Havaí, Paralamas do Sucesso e Titãs, sem contar Cazuza e Ultraje a Rigor?

Pois é! Aos poucos privilegiados já podem se preparar para o terceiro reencontro dos Paralamas do Sucesso e dos Titãs, que já dividiram o palco em 1992 e em 1999. Notícias em blogs, sites especializados e boletins on line já movimentam e despertam a ansiedade dos fãs das bandas.

Aos conterrâneos de Herbert Viana fica apenas um sinto muito, pois a turnê, prevista para começar no dia 27 de outubro no Chevrolet Hall, em Belo Horizonte, passará apenas por Salvador no Nordeste. Os soteropolitanos poderão prestigiar esse momento, que tem tudo para se tornar antológico, na Concha Acústica no dia 11 de novembro. Da Bahia, a turnê 25 Anos Rock segue para São Paulo, onde faz show no dia 24.

Os oitos músicos que integram as duas bandas, como divulga o jornalista carioca Mauro Ferreira em seu blog, “vão se misturar - em diferentes configurações - para trocar figurinhas. Herbert Vianna vai cantar Flores, dos Titãs. Já Paulo Miklos interpretará Óculos, um dos hits iniciais dos Paralamas”.

A turnê também passará pela capital carioca em 19 de Janeiro, onde serão gravados ao vivo CD e DVD, previstos para serem lançados em 2008 – caso os desbravadores da web não lancem primeiro. Também estão previstas participações de alguns convidados em cada uma dessas cidades.

Confirmados estão Marcelo Camelo em Salvador e São Paulo, Arnaldo Antunes em Belo Horizonte e em São Paulo, Carlinhos Brown em Salvador, Dado Villa-Lobos em Belo Horizonte e Andreas Kisser em São Paulo. Este último esteve em João Pessoa recentemente na abertura do projeto Oi Blues By Night, no Espaço Cultural, onde fez uma excelente participação ao lado do gaitista Vasco Faé.

Para quem não terá oportunidade de assistir a este show ao vivo, e acredita que o preço do CD e DVD deve ser um pouco oneroso para os orçamentos em tempos de MP3, há uma esperança jurídica e tributária que pode vir a se tornar realidade e mudar sensivelmente a relação financeira consumidor-mercado fonográfico.

É que tramita na Câmara dos Deputados uma proposta de emenda à Constituição (PEC), de autoria do deputado Otávio Leite (PSDB-RJ). A PEC dos Músicos (como está conhecida a emenda e que é semelhante a que foi concedida aos livros) concede imunidade tributária a fonogramas e videofonogramas (CDs, DVDs e outras formas de expressão musical) de artistas brasileiros. Devemos levar em consideração que atualmente os gastos com tributos fiscais chegam em torno de 40% do valor total dos CDs e DVDs comercializados no mercado formal.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Após uma boa leitura, o começo, o fim e o que há entre eles...


Ainda pelo Fúcsia de Vitória Lima...


EPIFANIA

olha, mãe, a lua rasgada no mundo!

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NÃO

passou a vida inteira
dizendo não à vida:

não.
não quero.
não posso.
não venho.
não vou.

a vida -
deu-lhe não como reposta:

não.
não peça.
não venha.
não tenho.
não dou.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

versos que copiamos do email e não sabemos de quem são...


Mulher

Que mulher nunca teve
Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?

Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta,estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?

Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou
Para ter a perna depilada,
Para aturar uma empregada
Ou para trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis,por ansiedade,
Uma alface,no almoço,por vaidade
Ou,um canalha por saudade?????

Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
A barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Ou que 'dele' não lembra nem o nome?!!!!!!!!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

"Quanto mais choro, mais passo batom"


FÚCSIA

da paleta dos jambeiros

sai o fúcsia que
pinta & borda
as calçadas dos setembros


Vitória Lima

Sabe os primeiros versos do dia?! Pois é?! eu nunca os tive, mas hoje encontrei de forma tão simples, colorida...em um percurso que faço diariamente de casa para o trabalho. E aí, lendo um livro que ganhei por ocasião do meu trabalho. Isso é importante, porque não saí em busca dele, nem quando foi lançado, apesar de conhecer a autora e ter por ela um respeito muito grande. Então, estou em mãos as cores e o universo feminino de Vitória Lima.

Seus versos me encantaram não porque eu saiba de algo de poesia, mas pelo contrário, por não saber nada, por compreender pouco a matemtática da arte que Sartre defende para que não seja engajada, mas apenas arte, é que me encanto com a beleza dos sentimentos de Vitória. Lindos...por enquanto é o que sinto...

SAIAS

saias
arrebanham
ventos & tempestades,
mumúrios, marulhos
nunca d'antes escutados.

saias
trazem
o colorido revolto
dos mares incessantes,

insensíveis
insensatos.

areias, algas, sargaços,
algas, falésias
em constante dissolução.

saias
arrastam
atrás de si
amores, saudades &
tangem
para casa
memórias
com gosto
de sal, mel,
chuva,
com gosto de
nunca mais...

Vitória Lima


sexta-feira, 5 de outubro de 2007

A Ro Ro é absurda!, e com uma orquestra inteira, fica linda demais...

A versatilidade da Orquestra Sinfônica da Paraíba, aliada à presença de palco e performance da compositora e interprete Angela Ro Ro proporcionou ao público presente à Praça do Povo do Espaço Cultural José Lins do Rego, nesta quinta-feira, um encontro memorável da música brasileira.

A abertura oficial do Concerto foi feita pelo Presidente da Fundação Espaço Cultural da Paraíba, Antônio Alcântara, que fez questão de frisar ser esta uma atividade que se pretende ser freqüente no Espaço Cultural , a partir de então. “Nosso objetivo é que em dezembro possamos realizar mais uma encontro como esse. Já estamos estudando alguns nomes e vendo todas as possibilidades”.

Com músicas inesquecíveis – a citar Amor Meu Grande Amor, Tola foi Você, Fogueira e Fica Comigo esta Noite, além da nova Compasso, a Orquestra Sinfônica da Paraíba iniciou o concerto desta quinta-feira tocando o Bolero de Ravel sob a regência do maestro Luiz Carlos Durier. Em seguida, a Orquestra recebeu como convidada, a polêmica Angela Ro Ro, que em pretinho básico e magérrima, mostrou sua capacidade de interpretação e emocionou o público em diversos momentos do concerto.

O público agradece a esta oportunidade de ver a Praça do Povo ocupada por tão importante equipamento cultural como o é a Orquestra Sinfônica adulta. Vale citar que enquanto a orquestra profissional se apresentava no Espaço Cultural, acompanhada de Ro Ro, em Buenos Aires, na Argentina, a nova geração da OSPB se prepara para apresentar aos lo ninos e la ninas, o que a criançada Orquestra infantil é capaz de fazer. No repertório dos pequenos já grandes compositores como Piazzola e Sivuca. A regência da Orquestra Infantil é da maestrina Norma Romano.

O crédito da foto é de Marcus Russo, fotográfo do Jornal A União, que getilmente liberou a imagem.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Sem excessos nem desperdícios...


Ao assistir ao monólogo O Diário de um Louco na montagem do grupo Bigorna, sob a direção de Jorge Bweres e André Morais, a primeira conclusão a que cheguei foi a de que o texto é extremamente visível durante toda a peça. Essa visibilidade excessiva não se deve, primeiramente, ao fato de que literalmente o texto se encontra em cena, mas porque a cena está sempre reforçando o texto.

Os elementos em cena não exageram em nada a atmosfera do texto do russo Nicolai Gogol. Estes, em alguns momentos lúdicos e funcionais, elementos cenográficos apenas reforçam de forma coerente a loucura de um personagem através da atuação de André Morais. São momentos impressionantes para quem está acostumado a espetáculos de teatro em que a cenografia chama tanta atenção, e é tão mal aproveitada, quando não desnecessária que não nos é permitido pensar tanto no texto.

A peça, que esteve em cartaz – a convite da vice-presidência da Funesc - no último final de semana no Teatro Paulo Pontes, do Espaço Cultural, é uma adaptação de um clássico da literatura russa do século XIX. O texto fala de um funcionário público medíocre e humilhado pelo sistema que se apaixona pela filha do chefe.

Em busca de compreender um universo onde lhe são impossíveis seus desejos e sonhos, o personagem, que permanece anônimo durante todo o tempo narrativo, acaba enlouquecendo, indo parar em um manicômio. Então, vê-se aí, a loucura do próprio autor, que passa a ter o cheiro do suor do ator em cena, que neste monólogo, se aproxima tanto da platéia que a ela, é cabível até o sentimento de pena.

A simplicidade e funcionalidade do cenário, aliadas à trilha sonora original do grupo COMPOMOS, fazem com que Diário de um Louco seja um dos momentos mais saudáveis do teatro paraibano. Vê-se um refinamento poético e teatral, onde o texto original foi arrancado de dentro de André, em excelente interpretação. A exaustão do ator em cena revela a exaustão de um louco, que sem adjetivos, apenas questiona o seu meio, sua política e o estatus quo de sua época.
Chega a ser surreal a relação de dependência que o funcionário anônimo cria com uma cachorrinha, a Medgi. Tudo isso para se fazer existir enquanto homem para Sophie – a filha do chefe e um de seus desejos impossíveis, e para o sistema enquanto cidadão. Após assistir essa montagem, dirigida maduramente por Jorge Bweres e pelo próprio André Morais, o espectador mais distante das teorias teatrais tem a certeza de que fazer teatro não é encher o palco de objetos, símbolos, panos de fundos e pessoas sem funções.

Não sendo uma loucura agressiva ou figurativa, a loucura em cena desperta antes um sentimento de complascência, principalmente quando se vê em André Morais a entidade do funcionário que tem seu estado de ânimo nivelados por uma iluminação que se torna anelante quando Sophie aparece, e escurece, se tornando tão negra quanto a depressão do Gogol quando se vê pelos olhos dos outros!

O bom mesmo foi o quarteto


Apesar da antipatia do guitarrista e vocalista Greg Wilson com o público paraibano, a quem ele não se deu ao trabalho nem de desejar boa noite, a segunda edição do Projeto Oi Blues By Night só confirmou a receptividade do público ao projeto, que promoveu, nesta quinta-feira (27) o encontro do vocalista do Blues Etílicos com o trio Blues Power.

Mas a grande sensação da noite foi de longe a performance do quarteto paraibano Stephan Thomas & Necta Groove. Essa turma mostrou que está à mercê da boa música, onde o inesquecível tema de 2001 – Uma Odisséia no Espaço foi o ponto de partida para a melhor apresentação da noite. Vale ainda citar a versão de Terra, música autoral do grupo Chico Correa & Eletronic Band.

Com um repertório impecável, e espaço, inclusive, para retomar elementos da cultura popular através de pandeiro e caixa pelo baterista Victor Ramalho – em excelente forma! - o quarteto é formado também por Stephan Thomas no sax, Orlando Freitas no baixo e Peter Büler na percussão e efeitos sonoros.

Não é difícil de imaginar essa relação deles com a imagem, tendo em vista que todos eles integram o Chico Correa & Eletronic Band, que há muito investe no imagético através do diálogo visual e cinematográfico do cineasta e VJ Carlos Dowling, sempre resgatando a linguagem cinematográfica e sua história.

O trio carioca Blues Power também mexeu com o público, principalmente quando tocou Secos e Molhados. Este foi um dos melhores momentos da apresentação. Que o Greg Wilson é um excelente guitarrista, isso ele mostrou muito bem, mas também se revelou um músico frio que não interage com uma platéia, que foi convidada a ficar tão próxima com as perfomances do quarteto paraibano e com a própria Blues Power.